Cooperativismo Catarinense

ARTIGO

Tempos de intolerância

Tornou-se difícil definir os novos tempos. As múltiplas crises se sobrepõem em camadas no cotidiano das pessoas, tisnando a visão da atualidade e contaminando as expectativas do futuro próximo. Há um tenebroso amálgama de crises. A crônica crise econômica foi potencializada pela crise sanitária provocada pela pandemia do novo coronavírus e, ambas, exteriorizaram com mais força a crise política. Esse cenário impacta a sociedade e faz baixar a taxa de confiança, situação que aflora – em maior ou menor grau – de acordo com o estamento social.

Os efeitos das dificuldades para o controle da pandemia estão presentes na vida de milhares de famílias direta ou indiretamente atingidas pela covid-19. Ainda é difícil avaliar a dimensão da imensa perda de capital humano levado pela pandemia. Muitas dessas famílias são afetadas, simultaneamente, pelo desemprego, estabelecendo uma situação duplamente trágica de pobreza e morte. Daí sobrevém essa atmosfera de desalento e aflição que vergasta boa parte do País.

Essas duas chagas podem ser atacadas e mitigadas por políticas governamentais calcadas na proteção da saúde, de um lado, e de estímulo ao desenvolvimento econômico, de outro, tendo a geração de empregos como prioridade máxima.

Há, porém, um terceiro componente na atual contextura da sociedade brasileira que não é atingido por políticas públicas. O sentimento de ódio e intolerância que passou – nos últimos anos – a impregnar as ações das pessoas e a conduta de grupos. Várias gerações se sacrificaram para construir uma sociedade livre, pluralista, fulcrada no estado de direito, balizada pela Constituição federal, inspirada na busca da justiça social, fundada nos valores do trabalho e respeito aos direitos humanos.

Nessa sociedade há espaço para o debate, a livre manifestação do pensamento, a convivência dos contrários, o respeito às leis e a consagração da carta constitucional. Por isso, é perturbador perceber um fenômeno não tão recente: a eclosão da intolerância em seu estado bruto decorrida, possivelmente, da dificuldade de administrar o choque das ideias, a contraposição de correntes antagônicas. Se a leitura da sociedade for feita pelas lentes das redes sociais e demais canais digitais ancorados na internet, a impressão dominante é de que – em alguns setores – perdeu-se a habilidade para a convivência democrática. O debate foi substituído pelo ataque, os adversários se tornaram inimigos e as eleições se transformaram em território de belicosidade e vale-tudo.

Entre todas as liberdades e garantias constitucionais, é preciso reconhecer que a liberdade de imprensa é a garantidora de todas as demais liberdades. Não existe sociedade democrática, libertária, pluralista e inclusiva sem liberdade de imprensa. É a maior conquista da civilização, é o maior bem da sociedade civil. A imprensa como instituição e os jornalistas profissionais como principais operadores da comunicação social foram essenciais em muitos avanços. Uma imprensa empresarialmente forte e ideologicamente independente, balizada pelos princípios éticos e tecnologicamente atualizada é uma garantia que a sociedade eregiu contra o arbítrio e a tirania.

Apesar disso tudo, causa espanto a maneira obtusa e atroz como a imprensa vem sendo atacada por grupos de diferentes orientações ideológicas. Apurar os fatos, relatar os fatos, interpretar os fatos, opinar sobre os fatos – tarefas do cotidiano do jornalismo profissional tornaram-se perigosas. O rigor na apuração, a fidelidade aos fatos, o equilíbrio na produção dos conteúdos jornalísticos para as mídias impressas, eletrônicas e digitais e, especialmente, a oportunidade assegurada a todas as partes envolvidas são aspectos não valorizados. Basta que as publicações “não coincidam” com a particular visão de mundo desses grupos para o linchamento iniciar em diferentes ambientes (geralmente as redes sociais), podendo derivar para ataques físicos.

Informação verificável, confiável, de qualidade, útil para as pessoas, as famílias, as empresas, às instituições e aos governos é a informação produzida pelos profissionais do jornalismo. Essa informação (econômica, política, científica, policial, climática, esportiva etc.) transformou-se em um insumo diário tão necessário quanto a alimentação. Dentre todas as organizações humanas que compreendem esse fenômeno e fazem dos processos comunicacionais uma ferramenta de gestão e de crescimento, a mais proeminente é a cooperativa. Alguns de seus mais caros princípios – a livre adesão, a gestão democrática, o interesse pela comunidade – fazem das cooperativas instrumentos de formação para a cidadania.

MARCOS A. BEDIN
Jornalista, diretor da MB Comunicação e 1º vice-presidente da Associação Catarinense de Imprensa/Casa do Jornalista

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